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Os alertas que vêm do cenário externo

Retomada das exportações de carne para a China é a boa notícia num quadro mundial que pode afetar nossa economia

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Por Notas & Informações
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A satisfação com que o governo brasileiro recebeu a informação de que a China decidiu retomar as importações de carne bovina originária do País resume o sentimento do segmento produtor e exportador. A normalidade começa a voltar a um setor que vivia um clima de incertezas desde setembro, quando o Brasil suspendeu voluntariamente os embarques para a China por causa da identificação de dois casos isolados do “mal da vaca louca” em Mato Grosso e Minas Gerais. Investigações conduzidas pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) comprovaram que eram casos atípicos, sem risco para o rebanho nacional.

A China é o principal comprador de carne bovina brasileira (absorve quase metade das exportações do País) e, nos nove primeiros meses deste ano, suas importações haviam alcançado US$ 3,87 bilhões. São números que comprovam o peso da decisão de Pequim na balança comercial brasileira. Em nota conjunta na qual expressam a satisfação do governo brasileiro, os Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores destacam a importância “do fluido diálogo que se manteve com as autoridades chinesas”.

Se dependesse da família Bolsonaro, o entendimento talvez nem tivesse sido alcançado; se o tivesse, não teria sido de maneira tão “fluida”. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho 02 do presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, postou mensagem nas redes sociais na qual afirmou que “a fama da China já vai longe em práticas como essa: criam obstáculos somente para baixar os preços”.

Felizmente o relacionamento do Brasil com seus parceiros comerciais volta a ser marcado por bom senso e realismo. Tais características serão mais necessárias nos próximos meses, num cenário internacional que começa a ficar menos favorável para o Brasil.

Restrições monetárias nas principais economias mundiais podem afetar o crescimento do comércio internacional. Preços de alguns dos principais itens da pauta de exportações do Brasil já não estão em seus níveis mais altos em muito tempo, como se observava até há pouco. São mudanças que afetam a balança comercial brasileira, importante fator de tranquilidade das contas externas.

Em estudo especial que publicou noRelatório Trimestral da Inflação, o Banco Central (BC) afirma que a recente melhora do volume do comércio mundial “pode estar sujeita a um arrefecimento tanto por conta da eventual piora das condições financeiras – por um eventual enxugamento de liquidez nos centros financeiros internacionais – combinado com a elevação da incerteza que paira em temas geopolíticos como as políticas comercial, ambiental e militar”. A retração do comércio mundial retardaria a recuperação da economia global.

O BC aumentou de US$ 21 bilhões para US$ 30 bilhões sua projeção para o déficit em transações correntes do balanço de pagamentos em 2021. A entrada de investimento direto no País foi revista para baixo, de US$ 55 bilhões para US$ 52 bilhões.

São elementos que se acrescentam a um cenário interno ruim, de baixo crescimento, inflação alta, desemprego e um governo perdido.