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Pessimismo no Brasil afeta a AL

Ações do governo afetam a confiança na AL; no Brasil, a deterioração do ambiente econômico é mais aguda

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Por Notas&Informações
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A falta de confiança na política econômica do governo estende-se por vários países da América Latina (AL), é mais acentuada em alguns deles, mas no Brasil adquiriu tal peso que, combinada com a importância do País na economia regional, fez despencar o Indicador de Clima Econômico (ICE) da região. Calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o ICE caiu de 101,4 pontos no terceiro trimestre de 2021 para 80,6 pontos no quarto. A percepção de instabilidade política e a persistência de corrupção também contribuíram para a deterioração do ambiente econômico da região.

A queda de 20,8 pontos é a segunda mais acentuada de toda a série iniciada em 1989 e só é superada pela redução observada entre o primeiro e o segundo trimestres do ano passado, período marcado pelos impactos mais fortes da pandemia de covid-19. Além disso, o resultado interrompe, de maneira abrupta e acentuada, o ciclo de recuperação que se observava desde meados do ano passado. A pandemia afeta menos a vida econômica e social graças, sobretudo, às medidas que evitaram sua expansão mais rápida e à vacinação que, embora prejudicada por governos como o brasileiro, vem cobrindo parcelas cada vez maiores da população. Mas ainda representa uma ameaça. E afeta o ambiente econômico.

Problemas estruturais dos países latino-americanos persistem e preocupam. Falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, infraestrutura precária, desigualdade de renda (que a pandemia acentuou) e falta de mão de obra qualificada, por exemplo, continuam a ser listadas entre os principais obstáculos para o crescimento.

Mas o ICE caiu no último trimestre do ano por razões conjunturais. O índice foi arrastado para baixo sobretudo pela redução de 55,1 pontos no Brasil, mais do dobro da queda na Argentina, o segundo país em que o clima mais se deteriorou entre os países pesquisados.

A pandemia atingiu a economia brasileira no momento em que ela operava em ritmo lento, num ciclo observado desde o fim da recessão de 2015 e 2016. À aguda queda da atividade econômica entre o segundo e o terceiro trimestres do ano passado, por causa da pandemia, parecia seguir-se uma recuperação rápida. Mas o quadro mudou. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, em torno de 5%, mal será suficiente para repor as perdas de 2020. Para 2022, as previsões convergem para um crescimento em torno de 1% ou menos, fazendo o País retornar ao desempenho medíocre registrado antes da pandemia.

Inflação em alta – o que exige ação mais dura do Banco Central e resulta em dificuldades adicionais para o crescimento –, dólar caro, desemprego persistente, renda estagnada e política fiscal que gera desconfiança são os elementos que se acrescentam a um cenário ruim. Não surpreende que a confiança dos consumidores e dos empresários dê sinais de fraqueza. E que, em resumo, o clima econômico se deteriore de maneira tão acentuada. Com as políticas erráticas, quando não nocivas, do governo Bolsonaro, é difícil mesmo ver sinais de melhora.