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Piora externa, crise local

O cenário internacional está mais sombrio, mas o Brasil é autossuficiente na maior parte dos desajustes econômicos

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Por Notas&Informações
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A semana começou com sinais preocupantes no mercado internacional e novos motivos de inquietação para os brasileiros, já assombrados, internamente, pela inflação acima de 11% ao ano e pelo baixo ritmo da atividade. Segunda maior economia do mundo e maior importadora de produtos brasileiros, a China enfrenta uma forte alta de preços na indústria, com aumento anual de 8,3% registrado em março. Além disso, medidas de lockdown contra novos casos de covid-19 têm forçado milhões de pessoas a se isolar, com evidente prejuízo para a produção. Na Europa, já se aposta em menor crescimento, com os negócios afetados principalmente pela redução da confiança do consumidor e pelo surto inflacionário.

Níveis de confiança de empresários e consumidores são alguns dos chamados indicadores antecedentes usados para detectar possíveis mudanças de tendência. Encomendas à indústria, formação de estoques e investimentos em máquinas e equipamentos também se incluem no grande conjunto desses indicadores. Com base nesses dados, economistas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) antecipam perda de impulso no Reino Unido e em toda a zona do euro, expansão estável nos Estados Unidos, no Japão e na China e redução de crescimento no Brasil.

No caso brasileiro, essa tendência havia sido assinalada em relatórios anteriores da OCDE, assim como em avaliações de outros órgãos multilaterais, do mercado e do setor público nacional. No mercado, os últimos levantamentos mostraram projeções em torno de 0,5% para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. O Banco Mundial baixou de 1,4% para 0,7% o crescimento estimado para o País neste ano.

A nova onda de incerteza, agravada pela guerra na Ucrânia e pelos problemas chineses, derrubou em abril os indicadores dos Barômetros Globais, produzidos em colaboração pelo Instituto Econômico Suíço KOF, de Zurique, e a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Barômetro Coincidente caiu 6,1 pontos em abril e chegou a 99,2 pontos, o menor nível desde janeiro de 2021 (97,2), sinalizando uma economia mundial já enfraquecida. O Barômetro Antecedente recuou 6,3 pontos e chegou a 86,9, menor patamar desde julho de 2020 (74,2), mostrando uma sensível piora das expectativas.

Mas o Brasil é autossuficiente quanto à maior parte dos desarranjos econômicos. Problemas internacionais podem agravar os brasileiros, mas o País produz inflação e estagnação sem contribuição estrangeira. A indústria brasileira já estava em declínio antes da pandemia. O desemprego já superava 11%, em nível parecido com o do início de 2022. Em nenhum ano, desde a recessão de 2015-2016, o PIB havia aumentado 2%. A inflação recuou por algum tempo, a partir de 2017, mas voltou a ganhar impulso e a superar de longe as taxas da maior parte do mundo. Ainda assim, desajustes externos podem ter algum efeito, se os juros altos afetarem os fluxos de dólares e os problemas chineses diminuírem as exportações brasileiras de alimentos e minérios. Afinal, sempre é possível piorar.