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Potencial de crescimento

A produção deve crescer no País, mas ninguém pode apontar com segurança o ritmo nos próximos anos

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Por Notas & Informações
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O Brasil ganha impulso e a produção deve crescer neste ano mais que em 2019, mas ninguém pode apontar com alguma segurança o ritmo da atividade nos próximos anos. Isso dependerá do potencial de crescimento e esse continua sendo o ponto mais duvidoso da economia brasileira. Avançar na pauta de reformas poderá remover outros entraves, mas o futuro do sistema tributário continua incerto. A insegurança geral é visível no baixo nível de investimentos produtivos.

A incerteza quanto ao longo prazo caracteriza as projeções de crescimento do Brasil. O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou de 2% para 2,2% a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) esperada para 2020. A estimativa para 2021 foi diminuída de 2,4% para 2,3%.

Não se apresentaram novas estimativas para prazos mais longos, o que é normal nas atualizações de cenários em janeiro e julho. Essas projeções poderiam ser diferentes daquelas divulgadas em outubro, quando se apresentam as atualizações mais amplas? A resposta é negativa. Não há, por enquanto, indícios de mudança no potencial de crescimento do Brasil, confirmou o vice-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti. Esse potencial, segundo ele, deve continuar na vizinhança de 2,5% ao ano. Isso é quanto o País pode crescer sem desajustes.

A mesma visão é perceptível nas projeções de mercado. Para este ano, a mediana das projeções indica expansão de 2,31%, segundo a pesquisa Focus divulgada ontem pelo Banco Central (BC). Para os três anos seguintes o crescimento projetado fica em 2,5%. Pode haver até algum otimismo nessa estimativa: o crescimento atingirá pelo menos o potencial do País. Nos últimos anos nem isso ocorreu. Mas o dado mais importante, e obviamente preocupante, é outro. Não há indício relevante de aumento da capacidade produtiva. Esse é o recado embutido nas projeções mais longas.

Depois da recessão mais funda em cerca de 80 anos, a prioridade do governo, dos empresários e dos trabalhadores deveria ser, compreensivelmente, a retomada de algum crescimento. Era preciso sair do buraco e, tanto quanto possível, diminuir o desemprego. Esse foi, claramente, um objetivo imediato do governo do presidente Michel Temer. Enquanto criava algum estímulo à reativação dos negócios, a administração federal cuidou de questões de maior alcance, como a reforma trabalhista e a criação de um limite constitucional à expansão do gasto público.

O novo governo desprezou durante um semestre as questões de curto prazo, incluído o desemprego de 12% da força de trabalho, e se concentrou na pauta de maior alcance. Houve avanço significativo na questão da Previdência. Isso poderia aumentar a confiança do empresariado em relação ao médio e ao longo prazos, mas seria preciso algo mais tangível para movimentar a economia, criar oportunidades de emprego e estimular o investimento.

Por que os industriais investiriam em máquinas e equipamentos, quando havia capacidade ociosa na faixa de 25% a 30%? Houve algum investimento, sim, mas certamente limitado à solução dos mais graves problemas imediatos.

Iniciada há cerca de oito anos, a crise da indústria reduziu severamente a capacidade produtiva do setor e, como desdobramento, do Brasil. Ao mesmo tempo, o investimento em infraestrutura declinou, derrubado pela deterioração das contas públicas e por grandes escândalos na relação entre governo e empresas contratadas. Infraestrutura deficiente eleva custos e compromete a produtividade. Juros baixos e reformas são importantes para destravar os investimentos privados, mas o País precisa de algo mais. Maior segurança quanto à intensidade e à duração do crescimento é indispensável como estímulo. Ganhos de eficiência dependem crucialmente de progressos na infraestrutura. Além disso, é cada vez mais urgente cuidar da atualização tecnológica e da qualificação do capital humano. O governo continua devendo respostas a todas essas questões.