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Qualidade das ciclovias

A ampliação da malha cicloviária da cidade de São Paulo precisa ser feita com responsabilidade

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Por Notas e informações
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Nos últimos anos, a cidade de São Paulo ampliou a sua rede de ciclovias e ciclofaixas. São hoje 484,8 km de malha cicloviária, mas a manutenção dessas vias ainda deixa a desejar. Um estudo da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) avaliou que 40% da rede cicloviária da cidade está com má qualidade de manutenção, como, por exemplo, pintura desgastada ou apagada, buracos na via e sinalização ruim.

Realizado nos meses de setembro e outubro de 2018, o estudo levou em conta 19 critérios para avaliar a situação de 257 vias entre ciclovias (137,4 km, pista destinada à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego comum), ciclofaixas (306,8 km, parte da pista de rolamento destinada à circulação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização), calçadas partilhadas (16,2 km, destinadas à circulação exclusiva de ciclos), calçadas compartilhadas (23,4 km, de uso comum entre pedestres e ciclistas) e ciclorrotas (1 km, pista de uso comum para carros e bicicletas). As ciclofaixas e ciclovias da cidade de São Paulo receberam nota 7. As calçadas partilhadas, 6,5; e as compartilhadas, 6,4. As ciclorrotas receberam nota 6,2. Não foram avaliadas as ciclorrotas anteriores a 2013, por não compreenderem ligações estruturais.

Os itens mais mal avaliados da rede cicloviária de São Paulo foram sinalização vertical, sinalização nos cruzamentos, indicação de pictogramas (desenho ou pintura de bicicleta na via) e pintura. “A pintura apagada denota abandono da infraestrutura e pode estimular a invasão desta por motoristas que entendam que ela não funciona mais. Avalia-se se a tinta está em bom estado, apagada em alguns pontos ou completamente apagada”, esclarece o estudo.

Além da pouca largura de muitas vias, foram constatados ao longo de toda a malha cicloviária problemas relativos à geometria dos cruzamentos, que expõem os ciclistas a riscos desnecessários.

Os itens mais bem avaliados do estudo foram a qualidade do tipo de pavimento - concreto, paralelepípedo ou asfalto - e a ausência de obstáculos, como raízes de árvores, por exemplo.

No estudo, a Ciclocidade aplicou o “Índice de Desenvolvimento Cicloviário” (IDECiclo), criado por uma associação no Recife e que tem o objetivo de servir como um comparativo nacional das diversas estruturas de rede cicloviária. No momento, estão sendo elaborados estudos em Belo Horizonte e Brasília.

“O IDECiclo avalia como está a infraestrutura existente e qual é o parâmetro ideal para o total da cidade. No cálculo, fazemos a avaliação do porcentual da infraestrutura de acordo com a classificação viária. Toda via de trânsito rápido e arterial precisa ter infraestrutura cicloviária segregada, ou seja, ciclovia, em boas condições. E toda via coletora também tem que ter segregação com ciclofaixa. Todas as vias locais teriam de ter medidas de acalmamento de tráfego”, disse Suzana Nogueira, coordenadora técnica do projeto.

O IDECiclo varia de 0 a 1. A cidade de São Paulo obteve 0,107, o que corresponde a 10% da nota ideal, segundo os parâmetros propostos pelo índice. A avaliação indica que já existe uma série de medidas que favorecem a circulação de bicicletas na cidade, mas é apenas um pequeno começo. “Faltam muitas ações para alcançar uma condição adequada e segura para a circulação dos ciclistas”, diz o estudo.

A gestão do prefeito Bruno Covas informou ao Estado que, por ocasião do programa Asfalto Novo, foi realizada a manutenção de 42 km de infraestrutura cicloviária. A Prefeitura prometeu que, “em janeiro de 2019, a CET irá iniciar o trabalho de manutenção corretiva em 9 km das ciclovias do Bom Retiro, Pari, Av. Sumaré e Viaduto do Chá”, com a implantação de um novo padrão de sinalização.

A ampliação da malha cicloviária da cidade de São Paulo precisa ser feita com responsabilidade, seja para assegurar que haverá a correspondente manutenção, seja para não iludir o usuário com uma falsa sensação de segurança, expondo-o a graves perigos.