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São Paulo nas mãos de Tarcísio

No calor da campanha, Tarcísio teve que ser fiel ao atraso bolsonarista; agora, como governador eleito, espera-se que prevaleça a eficiência que seu histórico profissional inspira

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Por Notas & Informações
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A maioria dos eleitores paulistas decidiu confiar ao engenheiro carioca Tarcísio Gomes de Freitas o governo de São Paulo, que não apenas é o Estado mais rico da Federação, como figura entre os mais importantes centros de desenvolvimento financeiro, agropecuário e tecnológico do mundo.

Com um PIB de R$ 2,35 trilhões, o Estado de São Paulo é a terceira maior economia e o terceiro maior mercado consumidor da América Latina, de acordo com a Fundação Seade. À luz desse indicador, fosse um país, São Paulo estaria entre as 50 nações mais ricas do mundo, à frente de Argentina, Bélgica, Chile e Portugal, por exemplo.

Por fim, é neste Estado que vive um quinto da população brasileira, quase 45 milhões de habitantes, com todos os desafios e oportunidades que podem advir da concentração desse enorme contingente de pessoas em um mesmo lugar.

Como se vê, governar São Paulo já seria um desafio monumental para qualquer político, mesmo os mais experimentados em cargos executivos. A faina será ainda maior para alguém como Tarcísio, que jamais exerceu um mandato eletivo. Seu futuro governo, pois, se apresenta para os paulistas como uma grande incógnita.

No entanto, ao governador eleito são devidos o benefício da dúvida e uma dose de esperança. Embora jamais tenha disputado eleição, Tarcísio já serviu a diferentes governos, de Dilma Rousseff (PT) a Jair Bolsonaro (PL), passando por Michel Temer (MDB). Nos cargos públicos que ocupou, Tarcísio sempre desempenhou com relativo sucesso todas as atribuições que lhe foram dadas.

Nessas passagens pela administração pública federal, Tarcísio se notabilizou por seu perfil técnico, derivado de uma sólida formação acadêmica, e pela urbanidade com que trata seus interlocutores, mesmo os que estão em campos políticos adversários. Uma mostra desse perfil foi dada durante a campanha para o Palácio dos Bandeirantes, que, ao contrário da campanha para a Presidência, foi um tanto mais propositiva e bem mais civilizada.

Este jornal espera que, uma vez empossado como governador de São Paulo, em janeiro, Tarcísio se dispa do bolsonarismo tacanho que o ajudou a se eleger e encarne o bom gestor que demonstrou ser nos cargos que ocupou no governo federal. A eleição acabou. Há um Estado complexo a ser governado, com muitos problemas, mas também com muitas oportunidades para crescer ainda mais. 

É dever de Tarcísio coadunar suas ações como chefe do Poder Executivo estadual com os anseios e as preferências dos paulistas em áreas sensíveis como saúde, educação e segurança pública.

O governador eleito deve abandonar, por exemplo, a ideia de abolir as câmeras das fardas dos policiais militares, uma das mais bem-sucedidas políticas públicas de segurança pública já implementadas no Estado, após muitos anos de estudo. As bodycams são aprovadas pela grande maioria dos paulistas, inclusive pelos próprios policiais. Tarcísio também fará enorme bem ao Estado se, ao contrário de seu padrinho político, desestimular o armamento desenfreado da população travestido de exercício da “liberdade individual”.

É também sob esse falso pretexto que o futuro governador passou a defender a “liberdade” dos paulistas de não se vacinarem contra a covid-19. Tarcísio chegou a prometer que revogaria medidas que tornaram a vacinação obrigatória entre os servidores públicos estaduais. Ora, São Paulo liderou o esforço nacional para que todos os brasileiros tivessem acesso às vacinas. Ir de encontro a essa história não só seria uma insensatez do ponto de vista sanitário, como uma traição ao legado do Estado para que o País superasse a pandemia.

“É hora de um governo eficiente e de esperança”, diz o material de campanha de Tarcísio. A eficiência, o governador eleito já demonstrou ter ao longo de sua trajetória como servidor e ministro; já a esperança depende de sua disposição de governar para todos, desanuviando o clima de confronto e tensão que divide o País. Quanto menos bolsonarismo e mais espírito público, melhor.