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Sinais de anemia econômica

Potencial produtivo segue limitado por baixo investimento, segundo a FGV

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Por Notas e Informações
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O Brasil foi mal em 2019, com crescimento econômico de apenas 1,2%, quase igual ao do ano anterior, e menor expansão do investimento em capacidade produtiva, segundo o Monitor do PIB recém-divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O valor investido em máquinas, equipamentos e construções aumentou 2,7%, bem menos que no ano anterior, quando havia crescido 3,9%. O mau desempenho em dezembro, já apontado por dados setoriais e pelo índice de atividade econômica do Banco Central, foi indicado também pelo Monitor. Houve estagnação na comparação com novembro. O primeiro ano do governo Bolsonaro terminou com os negócios emperrados e prenúncios pouco animadores para 2020. Analistas do mercado já haviam reduzido suas projeções para este ano quando os números da FGV foram apresentados. Esse relatório é normalmente uma excelente antecipação do Produto Interno Bruto (PIB). Está prevista para o começo de março a apresentação oficial do PIB.

O modesto crescimento de 1,2% resultou da expansão dos três grandes setores – agropecuária, indústria e serviços. O consumo das famílias, com aumento de 1,8%, foi o principal motor da atividade. O investimento em máquinas, equipamentos e construções, 2,7% maior que o de 2018, continuou muito abaixo do necessário para a formação de uma economia mais dinâmica. O valor investido correspondeu a 15,3% do PIB, uma das menores taxas da série iniciada em 2001. Só em 2003 (15,1%), 2017 (14,7%) e 2018 (15,1%) as taxas foram inferiores à do ano passado, segundo a FGV.

Em países mais dinâmicos, esse tipo de investimento, conhecido no jargão dos economistas como formação bruta de capital fixo, é igual ou superior a 24% do PIB, ultrapassando, em alguns países emergentes, os 30%. No Brasil, algum crescimento ainda é possível, mesmo com a escassa formação de capital, porque a maior parte das empresas dispõe de capacidade ociosa. Também há alguma ociosidade na infraestrutura, mas a baixa qualidade e a má conservação de boa parte da malha de transportes são um grave problema para a produção e a circulação de mercadorias.

A solução dessas e de outras deficiências da infraestrutura só virá com a participação de capital privado, porque o aperto financeiro do setor público vai perdurar. Não bastará, no entanto, apenas abrir concessões, leiloar oportunidades de participação e atrair grupos interessados em explorar sistemas de transportes, produção e distribuição de eletricidade e serviços de saneamento, alguns dos itens mais importantes. Será necessário eleger prioridades. Para isso o governo terá de ser capaz de pensar as necessidades do Brasil sem se prender em limites ideológicos.

Economistas do mercado estimam para este ano um crescimento na faixa de 2% a 2,3%. Para os anos seguintes a projeção continua engessada em 2,5%. Não se trata de um número mágico, mas de uma referência ao potencial de expansão econômica do Brasil.

Não se antevê – este é o ponto relevante – um aumento significativo desse potencial nos próximos anos. Esse aumento poderá resultar, inicialmente, de maiores investimentos em capital fixo, isto é, em bens de produção físicos. Isso dependerá de algo além da disponibilidade de recursos, provenientes de crédito, de capital próprio ou de investidores estrangeiros. Dependerá crucialmente de confiança e de expectativas de negócios crescentes. Essa expectativa aparentemente faltou em 2019, embora muitos empresários tenham continuado a declarar confiança na ação econômica do governo.

Mas um crescimento mais rápido, duradouro e compatível com maior presença global dependerá também de capital intangível – maior oferta de mão de obra qualificada, mais pesquisa e mais inovação. Isso resulta de políticas educacionais adequadas e de estratégias de estímulo à ciência e à tecnologia. Todas as manifestações do governo apontam na direção oposta a qualquer desses esforços.