Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Terceira dose para os mais vulneráveis

A aplicação da 3.ª dose da vacina em idosos e imunossuprimidos é a decisão mais acertada

Exclusivo para assinantes
Por Notas & Informações
2 min de leitura

Os brasileiros com 60 anos ou mais representaram pouco mais da metade (51%) dos mortos pela covid-19 no mês de julho. As internações de idosos em UTI em decorrência da doença também cresceram 42,1% naquele mês, revertendo a tendência de queda observada desde janeiro. Especialistas atribuíram estes dados preocupantes à disseminação comunitária da variante Delta no País e à queda da efetividade das vacinas ao longo do tempo. A população idosa, como se sabe, foi priorizada na Campanha Nacional de Vacinação contra a covid-19 e começou a ser vacinada no início deste ano.

Com base na recomendação das autoridades sanitárias e na experiência internacional, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou em entrevista à rede CNN Brasil, no dia 17 passado, que o Estado iniciara estudos para aplicação de uma terceira dose da vacina contra a covid-19 na população mais vulnerável ao vírus. “A terceira dose está em avaliação, sim, e, se houver necessidade, os programas de imunização adotarão esta medida”, disse Doria, enfatizando que, “se necessário for, o governo de São Paulo irá providenciar mais doses da Coronavac” para a população.

Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes na quarta-feira passada, Doria anunciou que a aplicação da terceira dose em indivíduos com 60 anos ou mais começará no dia 6 de setembro no Estado de São Paulo.

No dia seguinte, o Ministério da Saúde publicou nota técnica detalhando a aplicação da dose de reforço em todo o País. Neste primeiro momento, a pasta priorizará no plano de vacinação a aplicação da terceira dose em idosos com mais de 70 anos e em pessoas imunossuprimidas, caso de indivíduos submetidos a transplante de órgãos sólidos ou de medula óssea, pacientes em tratamento de câncer, portadores do HIV, entre outras condições clínicas. 

A boa-nova traz enorme alívio para a população diretamente atingida e seus familiares, haja vista que estes grupos prioritários não apresentam uma resposta imune à vacina tão robusta como a de pessoas mais jovens ou que não tenham o sistema imunológico comprometido por alguma doença ou por efeito de medicamentos.

Inicialmente, aventou-se a possibilidade de começar a aplicação da dose de reforço nos idosos e nos profissionais da área de saúde. Mas, em boa hora, o Ministério da Saúde decidiu priorizar os imunossuprimidos. A decisão faz todo sentido. É razoável inferir que a maioria dos profissionais que atuam na chamada linha de frente do combate ao coronavírus não tem o sistema imunológico comprometido. E os que têm estarão cobertos pelos critérios definidos na nota técnica.

De acordo com a orientação do Ministério da Saúde, o reforço da terceira dose valerá para quem tomou qualquer uma das vacinas usadas na Campanha Nacional de Vacinação contra a covid-19 há pelo menos seis meses e será realizado, preferencialmente, com a aplicação de uma dose extra da Pfizer, de matriz RNA mensageiro. Na falta deste imunizante, as alternativas serão as vacinas de vetor viral Janssen ou AstraZeneca.

É importante deixar claro que a aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 não significa, de forma alguma, que as duas doses que asseguram imunização completa – ou a dose única, caso da Janssen – não sejam seguras ou eficazes. A dose extra é apenas isto, uma proteção adicional para pessoas que, dadas a idade ou condições clínicas, não apresentam a mesma resposta imunológica que a maioria dos indivíduos.

Não se descarta a vacinação periódica de toda a população, independentemente de idade ou condição de saúde, tal como ocorre com a imunização contra outras doenças, como a influenza, por exemplo. “Se os estudos científicos concluírem que isto será necessário”, disse Rodrigo Cruz, secretário executivo do Ministério da Saúde, “toda a população será revacinada contra a covid-19 em 2022.” O avanço da vacinação e, agora, a aplicação de uma dose de reforço para os mais vulneráveis são indicativos de que a tão ansiada imunidade coletiva está mais próxima.