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Um desastre social e econômico

Apesar de alguma melhora, mercado de trabalho continuou em péssimas condições na recuperação da pandemia

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Por Notas & Informações
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Com 12 milhões de pessoas em busca de ganha-pão, o mercado de trabalho pouco melhorou na virada do ano e pouco deverá mudar, nos próximos meses, se a economia continuar tão emperrada quanto indicam as projeções do mercado e até do governo. Dinheiro curto, consumo restrito e contas em atraso seguirão assombrando dezenas de milhões de famílias, porque a perda de renda assola também a maioria dos ocupados.

A população desempregada continuou com o mesmo tamanho – 12 milhões – nos trimestres móveis terminados em dezembro, janeiro e fevereiro. Só houve uma ligeira variação, quase insignificante, na taxa de desemprego, de 11,1% no primeiro período para 11,2% da força de trabalho nos dois seguintes. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O quadro fica pouco melhor quando a comparação envolve intervalos maiores. No trimestre setembro-novembro os desempregados eram 12,4 milhões, ou 11,6% da população economicamente ativa. No período encerrado em fevereiro de 2021 os trabalhadores desocupados eram 14,9 milhões, número equivalente a 14,6% das pessoas ativas.

Apesar do cenário menos negativo, o desemprego no Brasil permaneceu muito acima dos padrões observados na maior parte dos países desenvolvidos e dos grandes emergentes. Nesse grande conjunto a desocupação raramente supera 7% da população ativa e, além disso, dificilmente se encontram níveis de pobreza semelhantes aos do Brasil.

Não só a desocupação se manteve elevada no Brasil durante a recuperação da primeira onda de covid-19. A maior parte das condições do mercado de trabalho continuou muito ruim para dezenas de milhões de pessoas. No último período pesquisado, o trimestre móvel terminado em fevereiro, a taxa de subutilização permaneceu muito alta: 23,9% da força de trabalho. Esse contingente, formado por 27,8 milhões de indivíduos, inclui desempregados, desalentados, subocupados por insuficiência de horas de trabalho e aqueles capazes de trabalhar, mas ainda fora do mercado. Os números são menores que os de um ano antes, mas ainda compõem um desastre econômico e social.

A projeção mais otimista, a do Ministério da Economia, indica para 2022 um crescimento econômico de 1,5%. Outros entes federais são mais contidos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Produto Interno Bruto (PIB) aumentará 1,1%. O Banco Central (BC) estima um avanço de 1%. Isso é o dobro da mediana das projeções do mercado, de acordo com a pesquisa Focus.

Sem aumento do consumo interno, a produção de serviços e de bens industriais fica sem tração para avançar. Mas é difícil, neste momento, imaginar os consumidores aumentando seus gastos. Em um ano, o rendimento médio habitual dos trabalhadores encolheu 9,7%, computado o efeito da inflação. A corrosão inflacionária deve continuar agravando os efeitos da anemia econômica. Cuidar desse desastre será o primeiro desafio para quem assumir a Presidência em janeiro.