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Um trimestre de recuperação

Aumento do consumo reforça os sinais de fortalecimento da economia no 3.º trimestre

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Por Notas & Informações
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Mais um dado positivo, o aumento do consumo, reforça os sinais de fortalecimento da economia no terceiro trimestre. Depois dos sinais promissores da atividade industrial e da produção de serviços, a novidade é a expansão das vendas do comércio varejista. Com as famílias mais animadas para gastar, em setembro as vendas no varejo foram 0,7% maiores que em agosto, com o quinto aumento mensal consecutivo. Também foram 2,1% mais volumosas que as de um ano antes. De janeiro a setembro o total vendido superou por 1,3% o contabilizado nos meses correspondentes de 2018. Em 12 meses houve ganho de 1,5% sobre o período imediatamente anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desemprego ainda muito alto certamente impediu resultados melhores. No trimestre de julho a setembro havia 12,5 milhões de desocupados, grupo equivalente a 11,8% da força de trabalho, mas o quadro fica bem pior quando se consideram os desalentados, os subempregados e os muitos milhares envolvidos em improvisados negócios por conta própria.

Esse balanço inicial das vendas mostra o movimento do comércio mais voltado para a rotina dos consumidores. Aí se incluem os super e hipermercados, as lojas de roupas, tecidos e calçados, as farmácias, perfumarias e as casas de produtos elétricos e eletrônicos. Somando-se a esse conjunto as lojas de materiais de construção, veículos e suas peças e partes, chega-se ao varejo ampliado, num cenário ainda positivo.

Somados todos os componentes, obtém-se um crescimento de 0,9% de agosto para setembro e uma expansão de 4,4% no confronto com setembro do ano passado. Neste ano e no acumulado de 12 meses houve ganhos de 3,6% e 3,8%.

A expansão do crédito, com redução de juros para algumas modalidades de financiamento, ajuda a explicar os avanços. Continuando a afrouxar a política monetária, o Banco Central (BC) tem sido a principal fonte oficial de estímulo à reativação da economia. Um novo corte dos juros básicos, previsto para dezembro, deve reforçar as condições de crédito mais favoráveis aos negócios.

Há dias, o IBGE publicou dados da produção de serviços. Com o resultado, o setor saiu do patamar negativo. Em agosto, estava 1,5% abaixo do nível de dezembro de 2018. Em setembro, ficou 0,1% acima do nível do fim do ano passado.

Os serviços são o setor com maior peso estatístico – mais de 70% – na formação do Produto Interno Bruto (PIB), mas estão longe de ser o mais avançado, o mais produtivo e o gerador dos melhores empregos. Alguns segmentos são modernos e dinâmicos, mas são minoritários. Na maior parte, os serviços meramente refletem impactos da indústria, da agropecuária e do comércio.

A indústria, principal fonte irradiadora de dinamismo e de geração de empregos formais, continua com baixo ritmo de atividade, apesar de alguma reação no trimestre. A produção industrial cresceu 0,3% de agosto para setembro. A média móvel trimestral avançou 0,4%, mas o total produzido no ano foi 1,4% menor que o registrado de janeiro a setembro do ano passado. Os números acumulados em 12 meses também mostram recuo de 1,4%.

Depois de algum avanço em 2017 e em parte de 2018, a indústria perdeu impulso e ficou ainda mais fraca neste ano. A parte mais feia do balanço econômico deste ano, o primeiro do governo do presidente Jair Bolsonaro, certamente inclui a melhora muito lenta das condições de emprego e o desempenho ruim do setor industrial.

Os problemas da indústria extrativa, como o desastre de Brumadinho, explicam só em parte o balanço do setor. A indústria de transformação também andou mal na maior parte do ano. Falta verificar se a reação no trimestre encerrado em setembro será sustentada.

De toda forma, os sinais de melhora justificam alguma animação. As projeções do mercado têm mostrado um pouco mais de otimismo quanto ao balanço da economia neste ano e no próximo, mas com números ainda muito longe daqueles normalmente exibidos por outros países emergentes.