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Urgência para transplantes

Após dois anos de pandemia, fila de espera cresce 30% e demanda articulação nacional para enfrentar o problema

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Por Notas & Informações
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Após dois anos da pandemia de covid-19, a fila para transplantes de órgãos no Brasil cresceu 30,45% e ultrapassa 50 mil pessoas. Os dados, noticiados pelo Estadão nesta semana, cobram urgência das autoridades de saúde dos três níveis de governo − federal, estadual e municipal −, bem como a conscientização cada vez maior de doadores e de suas famílias acerca da importância de um gesto que, literalmente, salva vidas.

O aumento da já longa fila para transplantes, acima de tudo, é mais um triste legado da pandemia. A disseminação do coronavírus no País, a partir de março de 2020, ampliou as contraindicações médicas para a doação de órgãos e tecidos − a recomendação do Ministério da Saúde, naquele ano, foi de “contraindicação absoluta” para doadores infectados. O risco de contaminação também acabou sendo fator de insegurança para movimentar pacientes debilitados à espera de transplante. 

Por fim, como lembra o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Gustavo Fernandes Ferreira, a pandemia não só desestruturou a rede de transplantes no País, fazendo cair o número de doações, como também afetou o próprio sistema de saúde, que em muitos momentos precisou priorizar o enfrentamento da covid-19. Uma das consequências é que centros de transplantes acabaram interrompendo ou reduzindo suas atividades.

Em se tratando de transplantes, urgência é a palavra-chave e qualquer demora pode ser fatal. Balanço da ABTO mostra que 2021 foi um ano trágico nesse sentido, com 4.296 mortes de pacientes adultos e pediátricos na lista de espera para transplantes no País. Em 2019, haviam sido 2,5 mil. Os óbitos durante a pandemia, como não poderia deixar de ser, refletem também a incidência da própria covid-19 sobre quem já estava com a saúde fragilizada, caso dos pacientes à espera de transplante renal que se deslocam para fazer hemodiálise pelo menos três vezes por semana.

Como destacou o Estadão com base nos dados da ABTO, o total de óbitos na fila de espera chegou a 830 no primeiro trimestre deste ano, o que equivale a pelo menos nove mortes por dia. Apesar de alguns sinais de melhora, a entidade prevê a diminuição das taxas de transplante de rim, fígado e coração neste ano, caso nada seja feito para reverter a tendência. E alerta para algo extremamente grave: o porcentual de famílias que não autorizaram a doação subiu de 42%, no ano passado, para 46%, nos três primeiros meses de 2022. 

Não à toa, uma das recomendações da ABTO é aprimorar o acolhimento às famílias de potenciais doadores. De fato, a população precisa estar bem informada sobre o que a doação de órgãos representa. Faria bem o Ministério da Saúde, portanto, se intensificasse a divulgação desse tipo de informação. Outro desafio é articular os atores envolvidos em todo o território nacional, garantindo a celeridade necessária entre a captação de órgãos e tecidos e a sua devida utilização. Quando o assunto é transplante, não há tempo a perder: é preciso reverter com urgência os prejuízos da pandemia.