Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Vacina é proteção coletiva

Escolher que vacina tomar é uma decisão irresponsável, individual e coletivamente

Exclusivo para assinantes
Por Notas&Informações
2 min de leitura

O Brasil ainda está distante de atingir o patamar de cidadãos vacinados que permita frear a disseminação comunitária do coronavírus e, consequentemente, pôr fim ao flagelo da pandemia. Epidemiologistas consideram que isto só ocorrerá quando cerca de 70% dos brasileiros estiverem totalmente imunizados, ou seja, tenham recebido as duas doses da vacina (ou uma dose, no caso da vacina da Janssen). Passados cinco meses do início da vacinação no País, no entanto, apenas 30,43% da população brasileira havia recebido a primeira dose até o dia 22 passado. O porcentual de pessoas que receberam as duas doses é ainda menor – 11,52%, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa que compila dados das Secretarias Estaduais da Saúde.

Diante deste quadro, é impressionante – além de muito perigoso – que ainda haja quem simplesmente se recuse a tomar uma vacina quando chega sua vez porque o fabricante do imunizante à disposição no momento não é o de sua predileção, seja lá por que razões. Tal comportamento revela uma enorme irresponsabilidade, tanto do ponto de vista individual como coletivo.

Todas as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil são seguras e eficazes contra a covid-19, independentemente de sua origem. As quatro disponíveis – Coronavac, Oxford/AstraZeneca, Pfizer e Janssen – foram aprovadas para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por agências reguladoras internacionais, todas estas instituições de reputação inquestionável. Portanto, ao deixar de tomar uma delas por questão de preferência pessoal, o cidadão põe em risco a sua própria saúde e, o que é pior, a da coletividade, optando deliberadamente por manter-se como vetor de disseminação da doença. A vacinação contra doenças virais, nunca é demais reforçar, é, antes de tudo, uma ação de proteção coletiva.

Todas as vacinas já citadas, em que pesem seus diferentes porcentuais de eficácia geral, oferecem ampla proteção contra casos graves de covid-19, o que praticamente elimina o risco de internações e mortes em decorrência da doença no caso de contágio. Logo, quanto mais pessoas forem vacinadas, menor será a pressão sobre os sistemas de saúde público e privado, o que salva vidas. É elementar. Este comportamento egoísta de muitos cidadãos é inédito na bela história do Programa Nacional de Imunizações (PNI), um caso de sucesso que é reconhecido no mundo inteiro. Ele decorre, evidentemente, do criminoso ataque perpetrado pelo presidente Jair Bolsonaro às vacinas em geral e à Coronavac, em particular, por razões estritamente político-ideológicas, não científicas.

Até a pandemia de covid-19, nunca os brasileiros haviam se ocupado de questionar a origem das vacinas que recebiam contra as mais diferentes doenças. A alta adesão às campanhas de vacinação é uma marca nacional. Hoje, há quem escolha que vacina quer receber contra a covid-19, no melhor dos cenários. No pior, nem sequer querem ser vacinados. Grassa no País uma perniciosa campanha de desinformação da população a respeito dos imunizantes, cujo propagador de mentiras é nada menos do que a Presidência da República.

O País ultrapassou a terrível marca das 500 mil mortes decorrentes da covid-19. Isto deveria bastar para comover a Nação e levar todos os cidadãos aptos a serem vacinados aos postos de saúde. Só o avanço da vacinação, ao lado de medidas de proteção individual, como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social, será capaz de interromper a catástrofe.

Recusar uma das vacinas, por qualquer que seja o motivo, é, sobretudo, um desrespeito à memória de mais de meio milhão de nossos concidadãos aos quais não foi dada a chance de receber a proteção. Do governo federal não se pode esperar uma campanha de comunicação séria estimulando a população a acorrer aos postos de saúde, não enquanto Bolsonaro for presidente. Resta à imprensa, à chamada comunidade científica e, mais importante, a cada cidadão reforçar em seus círculos de influência a importância da vacinação como única forma de salvar vidas em um país já por demais enlutado.