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Vida mais longa e melhor

A vida média aumentou 4,8 anos em São Paulo entre 2000 e 2018. Mas melhoria das condições tem consequências em programas vinculados à Previdência

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Por Notas e Informações
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A população do Estado de São Paulo está cada vez mais longeva, mantendo uma tendência que se observa desde meados do século passado. Entre 2000 e 2018, a vida média no Estado aumentou 4,8 anos. Essa tendência, que reduz a diferença entre os indicadores estaduais e aqueles observados nos países desenvolvidos, evidencia a melhoria das condições de vida no Estado. Mas tem consequências sobre programas públicos, como os vinculados à Previdência Social. 

De acordo com o estudo A Esperança de Vida no Estado de São Paulo em 2018, elaborado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), mulheres de 62 anos e homens com 65 anos tinham no ano passado esperança de vida de 21,8 e 16,1 anos. Essas são as idades mínimas para a aposentadoria previstas no projeto de reforma da Previdência enviado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso. Isso significa que, em média, caso tenham contribuído por 40 anos para a Previdência Social, as mulheres que vivem em São Paulo receberão o benefício previdenciário por um prazo que corresponde a 54,5% do período de contribuição e os homens, a 40,2%.

É notável a evolução da esperança de vida ao nascer no Estado de São Paulo na comparação com a observada nos países com os índices mais altos. Em 1940, a diferença entre São Paulo e Suécia (na época o país com o maior nível de esperança de vida) era de 21,4 anos. No ano passado, a diferença para o índice observado no Japão – o país com o maior índice desde 1990 – era de 7,8 anos.

Em 1940, 25% das crianças nascidas no Estado morriam antes de completar 5 anos. A mortalidade infantil constituía um dos mais graves problemas da saúde pública. No ano passado, a taxa tinha se reduzido drasticamente, para 1,8%. No outro extremo, a sobrevivência até 85 anos correspondia a menos de 3% do grupo considerado, enquanto em 2018 os sobreviventes passaram a representar quase 35% do grupo.

No ano passado, o risco de uma criança com 5 anos de vida morrer antes de completar o décimo aniversário era de 0,9 por mil; em 1950, era de 9,7 por mil. Nesse período, o risco de um idoso de 80 anos não alcançar 85 anos caiu de 621,0 para 325,1 por mil. O paulista que atinge 15 anos apresenta risco de morrer em idade ativa (até 65 anos) de 174,2 por mil, bem abaixo do índice de 408,7 por mil observado em 1950.

Outra mudança constatada pelo estudo da Fundação Seade é a redução, entre 2000 e 2018, da diferença entre a esperança de vida feminina e a masculina, de 9 para 6,3 anos.

A despeito do aumento notável na esperança de vida da população paulista, que tem uma trajetória que a faz se aproximar dos índices mais altos do mundo, “ainda persistem grandes desafios para a eliminação de mortes precoces que condicionam a vida média da população”, destacam os autores do estudo. Eles citam especificamente os indicadores de sobrevivência da população idosa, que avançaram muito nas últimas décadas, mas “também revelam diferenças expressivas ao se comparar com os melhores registros internacionais”. Há, por isso, um campo, que os demógrafos da Fundação Seade consideram “crucial”, para o avanço na esperança de vida no Estado de São Paulo.

O estudo mostra também mudanças ocorridas nos últimos anos nos níveis de mortalidade e nas suas causas. Como a de outros países, a população do Estado de São Paulo passou, nas últimas décadas, por um fenômeno que os demógrafos chamam de transição epidemiológica. Nessa transição, há um declínio da mortalidade decorrente de doenças infecciosas e parasitárias, em boa parte evitáveis por programas de prevenção e de expansão da rede pública de saneamento básico. É consequência direta da melhor qualidade das habitações e das ações do poder público no combate a essas doenças.

Em contrapartida, constata-se o aumento de mortes causadas por doenças cardiovasculares, neoplasias e outras moléstias crônico-degenerativas, além de causas externas. O desafio passou a ser representado por doenças de causas mais complexas e, por isso, de mais difícil prevenção.